1 Mas quando Sefatias (filho de Matã) e Gedalias (filho de Pasur) mais Jeucal (filho de Semelias) e Pasur (filho de Malquias) ouviram o que Jeremias estava a dizer ao povo - que todos os que ficassem em Jerusalém haveriam de morrer pela espada, pela fome e pela doença, que todos os que se rendessem aos babilónios viveriam, e que a cidade de Jerusalém seria infalivelmente capturada pelo rei de Babilónia -
4 foram ter com o rei e disseram-lhe: Senhor, esse indivíduo tem de morrer. Essa espécie de discursos religiosos minam o moral dos poucos soldados que nos restam e também de todo o povo. Esse homem é um traidor.
5 O rei Zedequias concordou com eles: Está certo. Façam como entenderem. Não posso impedir a vossa acção.
6 Foram então buscar Jeremias à sua cela e desceram-no, por meio de cordas, para uma cisterna vazia no pátio da prisão, poço esse que pertencia a Malquias, membro da família real. Não havia lá água; mas o fundo estava com uma espessa camada de lama, e Jeremias ali ficou, atolado nela.
7 Quando Ebede-Meleque o etíope, uma personalidade importante do palácio, soube que Jeremias estava no fundo da cisterna, foi a correr até à porta de Benjamim, onde o rei estava reunido com a sua corte:
9 Ó rei, meu senhor, essa gente fez uma coisa tremenda ao pôr Jeremias no fundo do poço; vai acabar por morrer de fome, quando já não houver pão na cidade!
10 Então o rei ordenou-lhe que levasse consigo trinta homens e tirassem dali Jeremias, antes que viesse a morrer.
11 Ebede-Meleque assim fez; arranjou trinta homens, foi ao depósito de material em desuso do palácio, por debaixo da tesouraria, e levou de lá uma quantidade de roupa velha e de trapos inúteis, dirigiram-se ao poço e desceram aquilo a Jeremias, por meio duma corda. Ebede-Meleque chamou por Jeremias, lá para o fundo da cisterna e disse-lhe: Põe esses trapos debaixo dos braços, para te protegerem das cordas. Depois, quando Jeremias ficou preparado, puxaram-no para cima, tiraram-no dali e mandaram-no novamente para a prisão do palácio, onde continuou a permanecer.
14 Um dia o rei Zedequias mandou buscar Jeremias para se encontrar com ele, numa entrada lateral do templo.Queria pedir-te uma coisa, disse o rei. Não tentes esconder-me a verdade.
15 Jeremias respondeu-lhe: Se te disser a verdade, não me matarás? Dar-me-ás atenção, seja o que for que eu te disser?
16 O rei Zedequias jurou então perante o poderoso Deus, seu criador, que não mataria Jeremias nem o entregaria aos homens que andavam procurando tirar-lhe a vida.
17 E Jeremias disse a Zedequias: O Senhor, o Deus dos exércitos celestiais, o Deus de Israel, diz assim: Se te renderes a Babilónia, tanto tu como a tua família serão conservados com vida e a cidade não será queimada. Mas se pelo contrário recusares render-te, esta cidade será incendiada pelo exército babilónico e tu não escaparás.
19 Mas eu tenho receio de me render. disse o rei, e que os babilónios me entreguem aos judeus que fugiram para eles, e quem sabe lá o que me poderão fazer?
20 Jeremias replicou-lhe: Não cairás nas mãos deles; a questão está em que obedeças ao Senhor; neste caso, a tua vida será poupada e tudo te correrá bem. No entanto, se recusares render-te, o Senhor já te disse que até as mulheres no teu palácio serão todas entregues aos oficiais do exército babilónico; essas mulheres escarnecerão de ti amargamente dizendo: Tomas por amigos esses egípcios, que te traíram e te entregaram ao teu destino! Todas as tuas mulheres e filhos serão levados aos babilónios e não escaparás. Serás cativo do rei de Babilónia e a cidade posta a fogo.
24 Então Zedequias disse a Jeremias: Estás proibido, sob pena de morte, de repetires essas palavras a mais alguém! E se os da minha corte ouvirem dizer que falei contigo, e se chegarem a ameaçar-te de morte por não lhes dizeres sobre que falámos, conta-lhes então que apenas me pediste que não te mandasse para o calabouço da casa de Jónatas, pois que acabarias por morrer ali.
27 E com efeito, não se passou muito tempo sem que os da corte e administradores da cidade viessem ter com Jeremias, perguntando-lhe porque é que o rei o tinha mandado chamar. Então ele contou-lhes o que o rei lhe mandara dizer, e foram-se embora, pois que a conversação mantida entre ele e o rei não tinha sido ouvida por mais ninguém. E Jeremias permaneceu detido no pátio da guarda na prisão do palácio até ao dia em que Jerusalém foi novamente tomada pelos babilónios.